Vilão da inflação em 2024, preço da carne bovina começa a recuar

Um dos vilões da inflação em 2024, o preço da carne bovina começa a dar sinais de queda para o consumidor doméstico, em um movimento que deve se estender por todo o primeiro semestre. Ganho de produtividade e abate de fêmeas explicam a tendência num ano com expectativa de virada no ciclo pecuário para menor oferta de gado. Além disso, a abertura de novos mercados para a carne brasileira pode contribuir com o equilíbrio dos preços internos.

O valor da arroba do boi, que chegou a superar os R$ 350 em novembro passado no Estado de São Paulo, caiu para R$ 320 e os preços de cortes bovinos já recuam. No atacado da grande São Paulo, o quilo da picanha baixou 8,28% em 30 dias (até a quinta-feira, 13), segundo a Scot Consultoria. A alcatra com maminha caiu 4,26% e o contrafilé baixou 3,97%.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) projeta aumento de até 10% nas vendas externas de carne bovina em 2025, para perto de 3,3 milhões de toneladas. O desempenho pode vir mediante a conquista de mercados importantes com os quais o Brasil está em negociação: Vietnã, Japão, Turquia e Coreia do Sul.

Mas o aumento esperado das exportações não deve significar menor oferta de carne no mercado doméstico, segundo a Abiec. Ao Valor, o presidente da associação, Roberto Perosa, disse que disponibilidade de gado será ajustada ao longo do ano, em função da virada de ciclo, mas o abastecimento de animais aos frigoríficos e de carne ao consumidor final, interno e externo, seguirá normal.

Isso porque, em sua avaliação, a safra recorde de grãos deve melhorar as condições para o confinamento e a terminação dos bovinos, o que pode incrementar o rendimento das carcaças e ajudar no balanço final de produção de carne. “Nós vamos aumentar a produtividade face a uma redução do custo da matéria-prima”, disse Perosa.

Afora os ganhos de produtividade, a maior parte dos produtos exportados pelos frigoríficos brasileiros, como cortes do dianteiro e miúdos (língua, coração, bucho, tripa), não é muito consumida no Brasil, portanto não há uma concorrência com o produto destinado ao mercado interno, segundo o executivo.

“A exportação é um fator de equilíbrio do preço final do boi aqui no país. A venda desses produtos para a Ásia, que paga mais por eles, tira a pressão sobre o custo dos cortes consumidos aqui, como filé mignon e picanha”, disse. “Quanto mais exportamos, melhor para a composição de preço de custo do frigorífico. Por isso temos que incentivar a abertura de novos mercados. A exportação é determinante para o frigorífico, se ele vai ter uma margem positiva ou negativa”, acrescentou.

Para o head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP, Leonardo Alencar, o aumento do descarte de fêmeas sem prenhez nesta época do ano também deve fazer com que a oferta de carne cresça e os preços permaneçam mais controlados por todo o primeiro semestre de 2025.

“A dúvida é como ficarão as métricas de produção e abate no ano, como um todo. A expectativa é que caia o abate, mas suba o peso médio dos animais”, disse o especialista da XP.

 

Outra visão

Maurício Palma Nogueira, diretor-executivo da consultoria Athenagro, diverge sobre a expectativa de restrição de oferta de animais para abate neste ano e também aponta ganhos de produtividade. “O rebanho está ficando mais jovem, estamos agregando produtividade e girando mais rápido. Isso faz com que possamos colocar uma quantidade maior de fêmeas no mercado sem comprometer o rebanho”, afirmou.

Ele destacou que esta será a primeira virada de ciclo pecuário após a entrada da carne brasileira no mercado chinês, o que deve gerar reflexos diferentes dos observados até então. “Ao que tudo indica, a pecuária parece estar pronta para responder em maior velocidade, o que pode limitar maiores altas nos preços aos consumidores”, disse o especialista.

“A resposta em produção de carne para os próximos meses tende a ser mais rápida quando comparada a outros períodos de inversão no ciclo de preços”, acrescentou.

Assim, Nogueira vê espaço para oscilações na cotação da arroba ao criador e no preço da carne bovina na ponta, mas em ritmo menor que em 2024. Segundo ele, há expectativas de algum reajuste após o período de chuvas, mas com previsão de estabilidade ao fim deste ano.

 

Mais mercados

Perosa, da Abiec, que também espera preços mais equilibrados para a carne no mercado doméstico, admite que ampliar as exportações em 10% “é factível, mas não é fácil”. Ainda que não venham as aberturas almejadas, pode haver incremento nas vendas para Chile e México, e fortalecimento dos negócios com o Oriente Médio, disse. Há uma expectativa especial com Vietnã e Japão, países que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai visitar nas próximas semanas e pelos quais o presidente da Abiec passou nos últimos dias.

Cesar de Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, disse que o banco prevê avanço entre 2% e 5% para os embarques do produto em 2025, embora esse número possa crescer se houver abertura de mercado.

Para Alencar, da XP, é muito difícil chegar a uma alta de 10% na exportação, mesmo com os ganhos de produtividade esperados para a pecuária bovina que favoreçam a produção de carne.

Em 2024, o Brasil registrou recorde nas exportações, com o embarque de 2,87 milhões de toneladas, o equivalente a 32% da produção total.

Para os Estados Unidos, segundo maior mercado depois da China, a cota de 65 mil toneladas de carne bovina isentas que o Brasil compartilha com outros nove países já foi atingida em 15 de janeiro, o que mostra a força da demanda. Oswaldo Ribeiro Júnior, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), disse que “não irá faltar produto para os dois mercados, interno e externo”.

 

Por  e  — Brasília e São Paulo

 

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