O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou nesta terça-feira (29) que vai apoiar a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa ao comando da Casa em 2025.
A decisão foi tomada depois de meses de suspense em torno do indicado de Lira à sucessão – e de reviravoltas na configuração dos nomes colocados na disputa.
O endosso a Hugo Motta foi anunciado em um pronunciamento na Residência Oficial da Câmara, com a presença de líderes partidários.
"Presidir a Câmara dos Deputados por dois mandatos consecutivos, tendo recebido quando da minha reeleição o voto de confiança de 464 parlamentares, é uma das maiores honras que a vida já me concedeu", disse Lira.
"Estou convicto que o melhor candidato é o deputado Hugo Motta. […] Estou certo de que Motta, deputado experiente em seu quarto mandato, viveu e vive de perto os desafios da nossa gestão e vai saber manter a marcha da Câmara com essa mesma receita, que deu frutos ao Brasil", disse, ao lado do apoiado.
Motta deve "lançar" formalmente sua candidatura em um evento ainda na manhã desta terça.
O deputado despontou como favorito ao longo de setembro, após o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) abrir mão de sua candidatura. A divisão da Casa entre três candidatos – Pereira, Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União-BA) – deflagrou uma operação de Lira para construir uma candidatura de consenso.
Meses de negociação
Em setembro, Lira participou de um almoço de aniversário de Hugo Motta na Câmara e, segundo interlocutores, cogitou anunciar ali mesmo o apoio. O anúncio, no entanto, não aconteceu.
As semanas seguintes foram de intensa negociação para ocupar o "vácuo" deixado pelo deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) – que era tido como pré-candidato, mas abriu mão em favor de Motta.
No último dia 16, por exemplo, Motta se reuniu com parte da bancada do PT para acenar que, se eleito, colaboraria com a "governabilidade".
Além de Hugo Motta, ainda são pré-candidatos já anunciados os deputados Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União-BA).
Desde o primeiro semestre, Arthur Lira dizia em entrevistas que trabalhava para construir um "nome de consenso" para sua sucessão.
O atual presidente da Câmara, que não pode mais ser reeleito, buscava como cenário ideal uma chapa única, eleita por aclamação, para evitar rachas na Casa.
Em setembro, Lira chegou a afirmar a Marcos Pereira que ele receberia seu apoio se conseguisse demover os outros candidatos da disputa — sobretudo Antonio Brito.
Pereira, entretanto, disse que o presidente do PSD, Gilberto Kassab, barrou a saída de Brito como sinal de apoio ao seu nome, o que o levou a abandonar a disputa.
Motta, por outro lado, reúne as qualidades buscadas por Lira para angariar apoios entre diferentes bancadas na avaliação de parlamentares.
Além de ser próximo do presidente da Casa, Motta tem bom trânsito entre deputados dos partidos do Centrão e não sofre resistências entre partidos de esquerda, como é o caso de Elmar Nascimento. Por isso, virou o favorito a receber a “bênção” de Lira.
A eleição que definirá a nova Mesa Diretora da Câmara acontecerá em fevereiro do ano que vem.
Regras da eleição
As regras da Casa estabelecem que, para ser eleito em 1º turno, um candidato precisa ter maioria absoluta dos votos (metade mais um), desde que 257 deputados tenham votado. Se isso não ocorrer, haverá um 2º turno entre os dois mais votados, e o eleito será o que reunir mais votos.
🔎 Por que importa? A eleição para o comando da Câmara pode sinalizar os rumos que a Casa terá entre 2025 e 2026. Cabe ao presidente da Câmara definir as propostas que serão colocadas em votação no plenário da Casa, o que pode ajudar ou atrapalhar os planos do governo.
Também é responsabilidade dele destravar pedidos de abertura de impeachment contra um presidente da República. Além disso, o comandante da Casa também ocupa o segundo lugar na linha de sucessão da Presidência da República.
Arthur Lira já indicou que deseja eleger o seu sucessor em uma eleição sem sustos, sem divisões, com um bom número de votos.
Ele tenta reeditar a disputa de 2023, quando foi reeleito com apoio do PT ao PL. Por trás desses movimentos, dizem parlamentares, o deputado quer também demonstrar sua força e manter sua relevância depois de deixar o cargo.
Hugo Motta terá o desafio de viabilizar a sua candidatura e reunir forças políticas divergentes. Ele é visto pelos pares como um deputado acessível e com boa circulação entre diferentes bancadas.
Exemplo disso foram conversas que ocorreram na quarta (4), horas após ter sido apresentado como candidato do Republicanos ao comando da Câmara, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ex-presidente Jair Bolsonaro — as maiores lideranças do PT e do PL, que juntos representam 160 deputados.
Nas reuniões, tratou de sua trajetória política. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), que participou do encontro de Motta com Bolsonaro, disse que a reunião foi “maravilhosa”.
Integrantes do PL na Câmara, que soma 92 deputados, têm sinalizado que deverão votar no candidato escolhido por Bolsonaro.
“O PL apoiará o candidato do presidente Bolsonaro. Se for combinado com o Lira, fica melhor”, afirmou o vice-líder do partido, Giovani Cherini (PL-RS).
Hugo Motta (à esquerda de Lira na foto) recebeu o presidente da Câmara em celebração de aniversário — Foto: Divulgação
Reação
A construção de Lira enfrentará, por ora, adversários que ainda não cederam às tentativas do deputado alagoano de formar uma candidatura única.
Os deputados Elmar Nascimento e Antonio Brito (PSD-BA), que também disputaram a "bênção" do atual chefe da Câmara, devem manter as suas candidaturas.
Ainda em setembro, Elmar e Brito se reuniram e selaram um acordo para unificar os nomes mais à frente. Deve prevalecer o que obtiver o maior número de apoios.
Elmar era o mais cotado e visto pelos pares como o favorito para receber o apoio formal do atual presidente da Câmara na disputa pelo comando da Casa em 2025.
Outros dois nomes podem surgir na disputa, ainda que sem relevante votação: o Psol e o Novo avaliam ter candidatos próprios em 2025.
Quem é Hugo Motta
Hugo Motta vem de uma família com histórico político. Ele é filho do prefeito de Patos (PB), Nabor Wanderley, é neto do ex-deputado federal Edvaldo Motta e da ex-deputada estadual Francisca Motta.
Médico, ele foi eleito à Câmara em 2010, pelo MDB, aos 21 anos — idade mínima para exercer o mandato de deputado. Até 2015, esteve na base de sustentação dos governos Dilma Rousseff (PT).
Na gestão de Henrique Eduardo Alves, ganhou a presidência da Comissão de Fiscalização e Controle da Casa — o único colegiado permanente presidido por ele desde que se tornou deputado.
Mas foi no mandato de Eduardo Cunha — à época no MDB — que ele foi alçado aos holofotes. Por indicação de Leonardo Picciani (então filiado do MDB), Motta virou presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, criada em meio às investigações da Operação Lava Jato.
A CPI foi um dos pontos de desgaste político que levaram à derrocada de Dilma, cujo processo de impeachment foi admitido pela Casa em abril de 2016, com voto favorável de Hugo Motta.
Parlamentares da base de Lula dizem que a proximidade entre Cunha e Motta pode ser um problema, e relembram, por exemplo, que o deputado chegou a contratar a filha do ex-presidente da Câmara — hoje, deputada federal — Dani Cunha (União-RJ) para serviços de marketing político. À época, Motta disse à imprensa ter pagado do próprio bolso.
Eduardo Cunha afirma que Hugo Motta contratou os serviços de Dani Cunha, que era “muito eficiente”, como “outros deputados também contrataram”.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha nega que o deputado paraibano tenha feito parte de uma chamada “tropa de choque” de sua gestão.
Ele diz ter convivido com Motta como outros parlamentares e que indicações do deputado a cargos na Casa foram feitas por acordos normais de lideranças, sem a sua participação.
“Convivia com ele assim como convivia com Elmar, Marcos Pereira, Arthur Lira e muitos outros. Tinha boa relação com todos eles e nada de que era tropa de choque.Cada um segue a sua carreira e tem os seus posicionamentos — independente de mim”, afirma.
Hugo Motta ficou no MDB até 2018, seguindo na base do governo de Michel Temer. No ano seguinte, já estava no Republicanos e foi membro da base aliada de Jair Bolsonaro.
Em 2020, foi relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento de guerra. No início do governo Lula, disse que seguiria a orientação do partido e seguiria independente.
Por Kevin Lima, Paloma Rodrigues, Marcela Cunha, g1 e TV Globo — Brasília
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