Herdeiro de uma família de políticos do interior da Paraíba, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) teve uma carreira meteórica ao ser eleito para a Câmara pela primeira vez em 2010, aos 21 anos, idade mínima para o cargo. Hoje, em seu quarto mandato, aos 34, é visto por colegas como um nome de bom trânsito nos diferentes partidos da Casa.
Médico por formação, sua facilidade no trato pessoal é uma característica que, segundo parlamentares, fez seu nome ganhar força para suceder Arthur Lira (PP-AL). Em fevereiro, por exemplo, conseguiu reunir os três principais nomes cotados à época para disputar a presidência da Câmara — Elmar Nascimento (União-BA), Antonio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) —, em uma tentativa de consenso. O convescote foi marcado “de surpresa” e à revelia dos pré-candidatos, para “pregar uma peça”, segundo os parlamentares contaram na ocasião.
Sua atuação ao longo dos mandatos o credenciou como representante do Centrão. Fez parte das bases aliadas dos governos de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Embora se diga independente, aproximou-se da gestão de Lula após o petista levar Silvio Costa Filho, seu colega de partido, para o Ministério dos Portos e Aeroportos.
Impeachment e CPI
O histórico de Motta, contudo, o coloca como algoz do PT no Congresso. Em 2016, por exemplo, votou a favor do impeachment de Dilma. Na ocasião, o deputado fazia parte da “tropa de choque” do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desafeto dos petistas e responsável por dar a largada no processo de impedimento da ex-presidente. Como O GLOBO revelou à época, uma assessora de Cunha foi a real autora de um requerimento em que Motta pedia informações ao então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
A amizade de Motta com Cunha também se estendeu para a filha do ex-presidente da Câmara. Antes de ser deputada federal, Dani Cunha (União-RJ) chegou a trabalhar como assessora de marketing de Motta.
Questão em reunião
A ligação com Cunha foi, inclusive, alvo de questionamentos ao deputado na reunião que teve ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Segundo interlocutores do parlamentar, Motta negou que o bom relacionamento com o ex-deputado implique em apoio incondicional.
Após a saída de Dilma, Motta aderiu ao governo de Michel Temer, votando contra o pedido de abertura de investigação que atingia o emedebista e a favor de pautas caras à gestão, como a PEC do Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista de 2017, ambas criticadas por petistas até hoje.
Em 2015, o parlamentar presidiu a CPI da Petrobras e criticou no documento final o trabalho da força tarefa da Lava-Jato e o “excesso” de acordos de delação premiada. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi o único político indiciado.
Com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República, Motta mais uma vez adotou uma postura contrária à agenda petista.
Em sua atuação na Câmara, Motta foi o relator, por exemplo, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do “Orçamento de Guerra”, voltado para os gastos emergenciais do governo na pandemia. O deputado também foi relator da medida provisória (MP) que permitiu a renegociação de dívidas de estudantes junto ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Além da proximidade com Cunha e Lira, Motta também é aliado próximo do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Quando saiu do MDB, em 2018, o parlamentar chegou a negociar a filiação ao PP, mas preferiu ir para o Republicanos para ter o controle do diretório no estado. Se tivesse entrado no PP, o parlamentar teria que disputar influência com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
O líder do Republicanos tem como sua base eleitoral a cidade de Patos (PB). O município de 103 mil habitantes é há séculos administrado pela família Wanderley, oriunda da época da ocupação do Nordeste por tropas holandesas no século XVII.
Emendas para o pai
O pai do deputado, Nabor Wanderley (Republicanos), é o atual prefeito e busca a reeleição. Antes dele, seus antepassados também já comandaram a cidade, mas nenhum alcançou a relevância nacional de ocupar um cargo como presidente da Câmara, posto para o qual Motta agora desponta como um dos favoritos.
Como deputado, Motta destinou recursos de emendas para a prefeitura do pai, inclusive do extinto orçamento secreto, mecanismo criado no governo Bolsonaro em que parlamentares trocavam o envio dos recursos por apoio no Congresso.
Dos R$ 130 milhões de emendas de relator aos quais o parlamentar teve acesso, segundo documentos apresentados por ele próprio ao Supremo Tribunal Federal, R$ 22 milhões foram para a prefeitura hoje comandada por Nabor. O dinheiro foi repassado entre 2020 e 2021. Além disso, ele enviou R$ 6,1 milhões para a cidade na modalidade de “emenda Pix”, na qual o dinheiro cai direto na conta do município, que pode usá-lo como bem entender. Procurado para comentar o envio de recursos para a cidade do pai, Motta não se manifestou.
Por Alice Cravo, Lauriberto Pompeu e Patrik Camporez — Brasília
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