A nova variante do vírus da Covid-19 que tem se disseminado pelo mundo, chamada de XEC, foi identificada em três estados no Brasil. Ela é uma nova linhagem derivada da Ômicron e tem demonstrado uma vantagem em relação às outras cepas. Com isso, tem caminhado para se tornar prevalente nos países em que foi detectada.
Ainda assim, especialistas explicam que, por se tratar de uma versão da Ômicron, e não de uma variante completamente diferente – como foram as Delta, Beta e Gama no passado –, as vacinas atuais devem continuar a oferecer uma proteção significativa, especialmente para evitar casos graves e mortes.
— A ideia que se tem hoje é que a vacina disponível tanto no Hemisfério Norte, que é mais atualizada, como a que temos no Brasil, devem ser sim eficazes contra essa nova variante porque ela é derivada dessas que fazem parte das doses atuais. Lembrando que é importante que as pessoas que têm mais risco de casos graves, contempladas pela campanha do Ministério da Saúde, tenham a vacina em dia — diz a professora de Infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi.
A XEC foi identificada pela primeira vez no início de agosto, na Alemanha. Desde então, rapidamente outros lugares relataram a nova subvariante, com ao menos 35 países na Europa, nas Américas, na Ásia e na Oceania com registros até agora, de acordo com os dados do Gisaid, plataforma que reúne informações de vírus.
Nos Estados Unidos, segundo a última atualização do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), referente à semana passada, a XEC já representa 10,3% das amostras sequenciadas do vírus da Covid-19. Em meados de agosto, era menos de 1%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a cepa como uma "variante sob monitoramento", um estágio abaixo de "variante de preocupação".
No Brasil, a primeira detecção foi realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em amostras referentes a dois pacientes residentes da capital do Rio de Janeiro, diagnosticados em setembro. Logo depois, a XEC também foi identificada em amostras de agosto coletadas em São Paulo e de setembro, em Santa Catarina.
— O vírus continua evoluindo. Essa subvariante é uma recombinante, ou seja, o material genético é uma mistura de duas outras, a KS.1.1 e a KP.3.3. Isso acontece principalmente quando um hospedeiro é infectado por duas variantes ao mesmo tempo e ocorre essa mistura do material genético delas — explica o geneticista Salmo Raskin, fundador e diretor do Laboratório Genetika em Curitiba.
Ele conta ainda que a KS.1.1 e a KP.3.3, por sua vez, são cepas derivadas da JN.1, que é a prevalente hoje no Brasil, segundo a Fiocruz: — A JN.1 já tinha pelo menos 30 mutações em relação à XBB, que é a vacina que temos hoje, mas mesmo assim a dose continuou a oferecer uma boa proteção. Baseado nisso, acreditamos que o imunizante continuará a oferecer uma proteção principalmente contra formas graves. Talvez ela apenas não seja tão alta contra a infecção, porque o vírus se adapta para isso.
É como avalia também o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Ele lembra que nos Estados Unidos há a oferta agora, para a campanha 2024 - 2025, de uma dose mais atualizada, desenvolvida para a KP.2, que predomina nos EUA. Para ele, o ideal seria o Brasil também conseguir estar mais em dia com as fórmulas adaptadas.
Porém destaca que mesmo as vacinas que estão disponíveis no Brasil, direcionadas para a XBB, ainda são de fato eficazes: — O mais importante é ter uma vacina, especialmente na nossa recomendação atual que idosos e imunossuprimidos se vacinem duas vezes ao ano, gestantes durante a gravidez e crianças que ainda não foram vacinadas. Mas é bom entendermos que garantiríamos uma proteção maior e mais duradoura se tivéssemos uma vacina mais atualizada. Deveríamos trabalhar para levar a versão mais atualizada para nossa população — diz.
Os especialistas destacam ainda que, nos casos de oferta da vacina ao público geral, o que ocorre quando cidades não têm grande demanda pelos públicos prioritários, é também indicado que as pessoas de fora do grupo de risco busquem a vacinação.
— Não significa que as pessoas gerais não tenham risco. Ele é maior nos grupos como idosos, imunossuprimidos, mas se a pessoa que não faz parte desses grupos tiver a oportunidade de se vacinar e a última dose tiver sido há mais de seis meses, ela deve buscar sim o posto de saúde — recomenda Raskin.
Por Bernardo Yoneshigue — Rio de Janeiro / O GLOBO
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