Anvisa suspende venda, manipulação, anúncio e uso de 'chips da beleza'

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu, nesta sexta-feira (18), a manipulação, comercialização, propaganda e uso de implantes hormonais manipulados, conhecidos como "chips da beleza".

➡️O chamado "chip da beleza" é um tipo de terapia hormonal para fins estéticos. O uso do dispositivo também está vinculado à tratamento de sintomas da menstrução e menopausa. Os chips já eram proibidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) pelos riscos à saúde. (entenda mais abaixo)

Segundo a agência, a medida preventiva foi adotada após denúncias apresentadas por entidades médicas. Diversas associações alertaram sobre a crescente utilização indevida de implantes hormonais no país.

Em dezembro de 2023, o g1 mostrou que sete entidades médicas expressaram preocupação com o tema e enviaram uma carta à Anvisa pedindo providências com relação à comercialização e uso desses implantes.

De acordo com as entidades, há uma alta no atendimento de pacientes com problemas devido ao uso de implantes que misturam diversos hormônios.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Paulo Miranda, a medida é um passo importante para proteger a população dos riscos associados aos implantes hormonais.

 

"A decisão representa uma importante vitória na nossa luta pela saúde pública. Os implantes têm sido utilizados de forma inadequada e com riscos comprovados para a saúde”, destaca.

 

Além da suspensão, a agência publicou um alerta sobre o uso dos "chips da beleza".

 

"Implantes hormonais para fins estéticos e de desempenho podem ser prejudiciais à saúde, além de não haver comprovação de segurança e eficácia para essas finalidades", destaca a Anvisa.

 

A resolução será publicada nesta sexta no Diário Oficial da União (DOU).

 

Uso e riscos do 'chip da beleza'

Os implantes hormonais são implantes de aplicação subcutânea que liberam um determinado hormônio lentamente no organismo.

Há uma diversidade de implantes disponíveis no mercado. O "chip da beleza", em especial, é o nome dado aos implantes de gestrinona, um hormônio sintético da progesterona, que faz com que a testosterona (hormônio masculino) aumente.

Considerando a falta de evidências científicas, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) afirma que não há recomendação médica para o uso dos implantes, "seja com a finalidade de realizar a terapêutica hormonal da menopausa ou anticoncepção, por escassez de dados de segurança, especialmente de longo prazo".

🚨Entre os principais efeitos colaterais e riscos associados aos implantes hormonais, segundo a Anvisa, estão:

 

  • Elevação do colesterol e triglicerídeos no sangue
  • Hipertensão arterial
  • Acidente vascular cerebral (AVC)
  • Arritmia cardíaca
  • Crescimento excessivo de pelos em mulheres
  • Queda de cabelo
  • Acne
  • Alteração na voz
  • Insônia
  • Agitação

 

Implante levou jovem à UTI

Ocitocina foi usada em

Ocitocina foi usada em "chip da beleza"; especialistas dizem que uso não tem comprovação e é risco à saúde — Foto: Reprodução/Instagram

 

Em dezembro de 2023, viralizou nas redes sociais o caso de uma jovem de cerca de 20 anos internada em estado grave em um hospital particular de São Paulo que desenvolveu um edema cerebral 24 horas após colocar o implante.

A jovem pôs dois implantes com ciproterona, gestrinona, testosterona e ocitocina.

👉 A ocitocina, conhecida popularmente como hormônio do amor, é produzida pela hipófise e tem uma ação antidiurética, agindo sobre o equilíbrio da água e sódio no corpo.

🚨 Quando há uma quantidade de hormônio acima dos níveis naturais, o corpo acumula água e esse acúmulo faz com que o sódio no sangue fique baixo, causando uma intoxicação por água.

A ocitocina passou a ser usada nos "chips da beleza" com a promessa de ajudar no emagrecimento.

Não há qualquer pesquisa que ateste a eficácia da ocitocina para tratar obesidade, ansiedade ou falta de libido.

O alerta feito pelas entidades à Anvisa aconteceu poucas semanas depois do caso da jovem. Segundo as entidades, a popularização desse implantes, frequentemente contendo esteroides anabolizantes é promovida como parte de estratégias que exaltam um ideal de corpo perfeito e estilo de vida saudável, mas que não possui respaldo ético e científico.

 

Por Júlia Carvalho, g1

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